quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Teologia Moral da Vida

Teologia Moral da Vida

A vida é a categoria básica da Revelação. Deus é o Vivente, O Deus vivo, como aparece em pelo menos 20 passagens do Antigo Testamento e 14 do Novo Testamento. Toda vida humana é uma participação na vida divina. A vida humana na terra é “um sopro” de Deus (cf. Gn 2,7). E a vida eterna da pessoa humana é a comunhão da vida das Pessoas da Santíssima Trindade.

1Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em mim, ele o cortará; 2e podará todo o que der fruto, para que produza mais fruto. 3Vós já estais puros pela palavra que vos tenho anunciado. 4Permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim. 5Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. 6Se alguém não permanecer em mim será lançado fora, como o ramo. Ele secará e hão de ajuntá-lo e lançá-lo ao fogo, e queimar-se-á” (Jo 15,1-6).

A alegoria da videira ilustra a participação da pessoa humana na vida da Santíssima Trindade, pela comunhão, realizada pelo Espírito Santo, princípio da unidade das Pessoas Divinas, com a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Filho que Se fez carne humana (cf. Jo 1,14).

Deus é uma Comunhão de Três Pessoas, realizada pelo Espírito Santo. A humanidade é uma comunhão de muitíssimas pessoas, realizada pela carne, pela herança carnal (cf. Gn 2,24). O Filho, que participava eternamente da Comunhão Divina, Se encarnou, assumiu a natureza humana, entrando na comunhão humana também. Tornou-se o “Caminho” o elo de união entre as comunhões divina e humana. A Comunhão Divina tem a vida em si. A comunhão humana tem apenas um sopro de vida. Na medida em que cada pessoa humana acolhe o Espírito Santo e entra em Comunhão com o Filho – representada na alegoria de João 15 pelo ramo que permanece na Videira, que é o Filho de Deus – alcança a Vida Divina e Eterna, entra na Comunhão Divina no Filho, pelo Espírito Santo. O Pai é o “agricultor”, que enviou o Filho e, pelo Filho, o Espírito Santo, o que “plantou a Videira” da Vida no meio da comunhão humana. A Palavra acolhida nos purifica (cf. Jo 15,3) e o Filho é a Palavra (cf. Jo 1,1-4; Pr 8,22-31). “Dar fruto” é equivalente a viver o amor divino. Este amor é Vivo e se aniquila permanentemente a si mesmo para transmitir vida. Quem permanece na videira, Deus permanece nele (cf. Jo 15,4) e realiza nele a Sua obra. A obra de Deus é a geração da vida pela doação de si mesmo (cf. Fl 2,5-8). “Dar fruto” é então viver a dinâmica básica da vida cristã: “De graça recebestes (a vida), de graça daí (a vida)” (Mt 10,8).

A vida cristã, na sua própria essência é uma páscoa, um dar a vida (morrer dando-se), gerando mais vida, para viver eternamente em Deus. Então matar, deixar morrer e tudo o que não promove e desenvolve a vida está contra a vida cristã e separa a pessoa de Deus.

Por que a pessoa humana não promove sempre a vida? Mais uma vez, por causa do pecado original. A revelação cristã nos ensina que Deus é um amor que Se entrega, Se esvazia de Si, que “morre” para transmitir a vida e entrar em comunhão com a nova vida que só permanecerá nessa comunhão de vida com o próprio Deus. A pessoa humana só viverá nessa dinâmica do Amor Divino. Dando também a sua vida. Mas a pessoa, pelo pecado original, desconhece o Deus Verdadeiro, que é esse Amor, e imagina Deus apenas como um ser que é poderoso e auto-suficiente. E deseja “ser como Deus” (cf. Gn 3,5), acumular poder e auto-suficiência. Para tal, entra em concorrência, não em comunhão com as outras pessoas e pensa ter vida na eliminação, na morte da outra pessoa e não na comunhão com ela, não dando a vida por ela. Esta é a origem de toda violência contra a vida no âmbito da humanidade: a ânsia de viver em plenitude, mas desconhecendo a verdadeira natureza da vida. O mundo sofre, as vidas são ceifadas, porque as pessoas querem ser felizes, numa felicidade sem sabedoria divina, mas apoiada no ter as coisas, na sede de poder e na ambição de alcançar a vida pela própria força e não receber como graça divina.

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