terça-feira, 19 de maio de 2009

Santos desfigurados

A DESFIGURAÇÃO DE ALGUNS SANTOS CATÓLICOS

Dia 23 de abril é feriado, porque é dia de São Jorge. Feriado conseguido não pelos católicos, mas pelos umbandistas, que associam São Jorge a Ogum, um de seus orixás. As festividades de São Jorge são sempre marcadas por um forte sincrestismo religioso, uma mistura de concepções religiosas que seria reprovada por qualquer dos Apóstolos de Jesus Cristo. “6Estou admirado de que tão depressa passeis daquele que vos chamou à graça de Cristo para um evangelho diferente. 7De fato, não há dois evangelhos: há apenas pessoas que semeiam a confusão entre vós e querem perturbar o Evangelho de Cristo. 8Mas, ainda que alguém - nós ou um anjo baixado do céu - vos anunciasse um evangelho diferente do que vos temos anunciado, que ele seja anátema. 9Repito aqui o que acabamos de dizer: se alguém pregar doutrina diferente da que recebestes, seja ele excomungado! 10É, porventura, o favor dos homens que eu procuro, ou o de Deus? Por acaso tenho interesse em agradar aos homens? Se quisesse ainda agradar aos homens, não seria servo de Cristo” (Carta de São Paulo aos Gálatas 1,6-10).
A imagem tradicional de São Jorge é mítica. Apresenta-o em um cavalo branco combatendo com sua lança um dragão. Esta imagem se baseia em Apocalipse 6,2 e 19,11, mas está deformada pois em Ap 6,2 ele não traz uma lança, mas um arco. E dragão é um animal mitológico, que não existe. O verdadeiro São Jorge foi um mártir cristão da Síria e nunca combateu dragão (que não existe) nenhum. Os santos da Igreja são pessoas de carne e osso como nós, que carregaram a cruz de Cristo em suas vidas e não são mitos nem super-homens. Os orixás da Umbanda, que nunca existiram a não ser na imaginação das pessoas, como o Pato Donald e o Mickey, são mitos e alimentam a imaginação e o medo dos ignorantes.
Alguns católicos gostam de São Jorge como um “santo guerreiro”. Sabemos que o verdadeiro São Jorge não foi um guerreiro e isso só é sugerido pela falsa imagem pela qual ele é divulgado. O que é um “santo guerreiro”? As pessoas vivem a vida como uma guerra para conseguir objetivos de ambição: dinheiro, posições, cargos prestigiosos, poder etc. E se associam a “santos guerreiros” para conseguir ganhar a guerra da sua ambição. Jesus Cristo ensinou algo muito diferente: “quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á” (Mt 10,39; 16,25; Mc 8,35; Lc 9,24; 17,33). Então os “santos guerreiros” estão a serviço da ambição e do materialismo das pessoas, em franco contraste com o ensinamento de Jesus Cristo. Isto é uma completa desfiguração do culto dos santos, que devem nos conduzir a Jesus e não nos afastar d’Ele.
Os santos cuja devoção está assim deturpada não deveriam mais ser cultuados nas Igrejas católicas ou então suas imagens e o discurso sobre eles deveria ser radicalmente mudado. É preciso ter coragem e querer agradar só a Deus (cf. Gl 1,10 acima) e não aos homens para fazer isso.
Padre Afonso Chrispim

Um comentário:

  1. Parece-me que o equívoco se origina em um resíduo no inconsciente coletivo dos povos, desde o início da civilização, com o surgimento das religiões politeístas (onde em geral havia um "deus principal" e vários menores com funções particulares, qual um rei e seus ministros), a partir dos sumérios, passando por egícios e gregos até chegar aos romanos.
    Com o advento do monoteísmo cristão (herdado dos hebreus), a ignorância popular aplicou aos santos - homens e mulheres comuns e falíveis como nós, mas que se aproximaram mais da imitação de Cristo (e apenas por isso devem ser lembrados) - "poderes" e atribuições específicas (S.Antônio/casamentos, S.Luzia/olhos, S.Rita/causas impossíveis, etc.) e a partir daí confundiu reverência/modelagem (louvável) com culto/devoção (condenável), fenômeno compreensível (mas nem por isso tolerável) nos católicos de menor nível cultural ou de formação religiosa inconsistente.
    É de suma importância frisar que o uso de imagens (gravuras e esculturas) deve ser admitido da mesma maneira que levamos na carteira fotografias de nossos filhos - ou seja, temos total consciência de que são apenas lembranças dos mesmos, e não eles próprios;. Qualquer coisa além disso dá munição aos detratores da Igreja, que nos acusam de idólatras e politeístas, quando por exemplo permitimos que se formem filas nos templos para beijar imagens de gesso ou madeira. Portanto, cabe antes de mais ninguém á própria Igreja esclarecer a questão, repetitivamente se necessário, no catecismo e nas homilias.

    ResponderExcluir